Pesquisas tem demonstrado que nossos genes não são o nosso destino.
Podemos manipular nossa herança genética e criar saúde em vez de doença.

Um dos processos bioquímicos muito estudados atualmente é a metilação que ocorre milhares de vezes no nosso corpo. Pela metilação certos genes  podem “turn off”[desligar] tendências genéticas que variam de obesidade passando por vários doenças incluindo os transtornos mentais. A depressão é um desses transtornos.

Esse processo de ligar e desligar genes chama-se epigenética.

 Podemos transformar nosso destino genético através de uma combinação de dieta, suplementos, sono adequado, controle do estresse e reduzida exposição a toxinas ambientais [toxinas presentes nos alimentos, na água, no ar e em produtos].

É a velha conhecida interação genética versus ambiente.

Com as ferramentas certas e individualizadas, podemos transcender nossas tendências genéticas a doenças – incluindo depressão, ansiedade, déficit de atenção/hiperatividade, defeitos do nascimento, câncer, demência, doenças cardiovasculares, insônia a obesidade.

“Nosso destino genético não é fixo. Ele pode ser editado, reescrito e alterado. Só precisamos saber como”. É  o que diz o Dr.Ben Lich autor do livro “Dirty genes”.

QUAL A IMPORTÂNCIA DISSO?

Um em cada dez americanos sofre de depressão. Isso tem custos sociais elevados. É uma das principais causas de suicídio. Medicamentos para depressão lideram a venda de remédios.  Mas uma boa parte das pessoas que os utilizam não se beneficiam como deveriam.

Existe várias ferramentas que podem ser associadas ao tratamento medicamentoso que podem otimizar o funcionamento cerebral e facilitar a ação desses remédios segundo o Dr.Robert Hedaya, psiquiatra americano autor do livro  “The antidepressant survival guide”.

O PODER DA EPIGENÉTICA

O nosso corpo procura o tempo todo ficar saudável, mantendo as engrenagens funcionando adequadamente. É  a chamada homeostase. Com algumas ferramentas químicas [alimentos, suplementos, medicamentos], físicas [por exemplo, o estimulo da acupuntura] e mentais [informação ao cérebro via psicoterapia] podemos auxiliar na detoxificação de substâncias presentes no corpo e na mente  e atualizar as informações do nosso computador central – O Cérebro.

Nos estudos da epigenética se pesquisa quais fatores podem influenciar como os genes são expressados. Já se usa muito essa prática nos cuidados pré-gestacionais de forma a suplementar com as vitaminas B9 e B12 buscando prevenir más formações congênitas, ou seja se fornece matérias-primas fundamentais ao processo de metilação necessárias na montagem do DNA.

Uma das peças do quebra-cabeças genético é um tipo de variação conhecida como SNP [Single-Nucleotide Polymorfism]- Polimorfismo de um nucleotídeo. Milhões de SNPs foram identificados no genoma humano. A maioria deles não parece afetar muito o funcionamento do corpo, mas são  apenas discretas variações nos genes.

Contudo alguns SNPs podem fazer uma grande diferença na nossa saúde. Vejamos alguns exemplos:

  1. SNPs na enzima MTHFR pode levar a vários problemas de saúde- de oscilações no humor com irritação, depressão, obsessões a defeitos ao nascimento, doenças cardiovasculares até câncer;
  2. SNPs na enzima COMT pode acarretar de distúrbios do sono, workaholic [tendência a trabalhar muito], TPM, problemas na menopausa a câncer e, no outro extremo entusiasmo exagerado, muita energia, etc.

SNP – uma alteração em uma sequencia de DNA muda o fenótipo.
Fenótipo=como o individuo se apresenta

COMO SE SABE QUE GENES PODE DESEMPENHAR UM PAPEL NA CAUSA DA DEPRESSÃO?

 Através de estudos com gêmeos idênticos(monozigóticos) que compartilham 100% dos seus genes. Ao se estudar um gêmeo monozigótico com depressão, tem uma maior probabilidade do outro gêmeo também ter esse transtorno mas existem outros fatores não relacionados aos genes – fatores físicos [como deficiências nutricionais, alterações na digestão e absorção de nutrientes necessários para o cérebro formar seus mensageiros químicos-neurotransmissores como a serotonina, a dopamina], doenças crônicas, dor e os de ordem  psicológica. Dentre os fatores psicológicos destacam-se estresse agudo [trauma emocional e físico] a crônico [como ofensas físicas, emocionais e sexuais na infância a negligencia física e emocional em tenra idade].

Além de uso de medicamentos, abuso de álcool e drogas.

EXISTE UM GENE PARA DEPRESSÃO?

 Algumas doenças são causadas por um defeito em um único gene. Isso ocorre na Fibrose Cística e algumas distrofias musculares com a Doença de Huntington. Essas são doenças mais raras. Mas distúrbios mais comuns como depressão, diabetes e hipertensão podem ser influenciados por vários genes. Nelas parece haver uma combinação de alterações genéticas  que predispõe algumas pessoas a adoecerem.

Não se sabe ainda quantos genes são envolvidos na depressão. Da combinação dos genes herdados dos pais pode ocorrer  uma predisposição a transtornos mentais que variam da depressão maior, a transtorno bipolar [alterna depressão maior com episódios de mania] e  distúrbios de ansiedade [desde  o transtorno ansiedade generalizada-TAG, a síndrome do pânico e fobias]. 

Pesquisadores encontraram 15 regiões genéticas ligadas a depressão!

 A companhia 23andMe  usa amostras de saliva e analisa o DNA para riscos genéticos. Um estudo de 2016 utilizou amostras de saliva de 75.000 europeus que relatavam diagnóstico clinico de depressão e mais de 231.000 que não tinham histórico de depressão. Os pesquisadores conseguiram identificar no genoma 15 regiões associadas a depressão. Esses achados foram replicados em outras amostras de 45.000 casos de depressão. Replicabilidade é fundamental para a validação de dados de pesquisa.

Os autores concluem  que esse foi um grande passo inicial para a compreensão dos fatores de riscos genéticos relacionados à depressão.

MAS OS TESTES GENÉTICOS SÃO DIAGNÓSTICOS?

No caso dos SNPs, os testes genéticos são preditivos mas não diagnósticos. Ou seja, há uma possibilidade de expressão do gene mas isso não quer dizer que ele se manifestará. Para checar se há repercussão no metabolismo, precisamos solicitar exames que nos mostram o funcionamento do metabolismo.

COMO A BIOQUÍMICA AFETA  HUMOR E A MENTE?

Segundo o Dr.Josh Friedman, do Instituto de Medicina Funcional dos EUA deve-se basear o diagnóstico dos transtornos mentais buscando a causa-raiz pois os medicamentos apenas tratam a manifestação- os sintomas.

Ele relata que já há muitas revisões da literatura médica e da nutrição que correlacionam fatores bioquímicos e nutricionais subjacentes aos transtornos mentais, e que há testes laboratoriais para avaliar esses fatores.

O ideal é que a abordagem da psiquiatria some-se com a  correção deles.

Ele cita algumas alterações bioquímicas relacionadas à depressão:

  1. Deficiência de neurotransmissores [mensageiros químicos utilizados pelo sistema nervoso];
  2. Deficiência de vitaminas e minerais [vitamina D, B6, B12, B9, zinco, magnésio, etc.];
  3. Alteraçoes no trato digestório [alterações no ácido clorídrico necessário na digestão de proteínas que devem ser quebradas no seu menor pedaço – o Aminoácido – material primário para neurotransmissores], disbiose intestinal com alteração da flora intestinal, parasitas, Doença celíaca, etc;
  4. Alergias alimentares agudas ou tardias ;
  5. Inflamação sistêmica como na obesidade, nas doenças autoimunes, etc.

Assim se reforça a importância de individualizar o tratamento em busca de todas as causas que possam contribuir para a manifestação do quadro depressivo.

Quase todas as medicações psiquiátricas têm como alvo chave  um ou mais neurotransmissores: 1) serotonina; 2) dopamina/noradrenalina e 3) GABA.

O cérebro precisa receber a matéria-prima vinda do trato digestório para montar esses neurotransmissores. Tomemos como exemplo os medicamentos recaptadores de serotonina que inibem a enzima MAO que degrada a serotonina, mantendo-a por mais tempo na fenda sináptica[espaço entre duas terminações nervosas], o que melhora os sintomas clínicos relacionados à deficiência dessa molécula. Se associarmos uma nutrição de forma a melhorar a fabricação da serotonina pelo cérebro, teríamos uma otimização do uso desses medicamentos- desde uso de doses menores até um desmame mais tranquilo para o paciente.

COMO PODEMOS AJUDAR USANDO OS PRINCIPIOS DA MEDICINA FUNCIONAL?

Já se sabe que um controle adequado da depressão não se consegue apenas com medicamentos. A Medicina Funcional busca equilibrar as 7 funções do corpo, as emoções, a mente e a espiritualidade. Vamos a elas:

  1. Melhorar a nutrição;
  2. Equilibrar os hormônios;
  3. Eliminar causas de inflamações crônicas;
  4. Otimizar a digestão;
  5. Fortalecer a detoxificação;
  6. Aumentar a energia do metabolismo;
  7. Aquietar a mente.

QUAL A RELAÇÃO DE TUDO ISSO COM OS GENES?

“Nossos genes são dinâmicos. A todo momento do dia, eles trabalham em um documento sobre a sua saúde. Eles podem escrevê-la de uma forma que você goste ou não”, diz o Dr.Ben Linch.

Por exemplo, seus genes podem dizer ao seu corpo: faça serotonina,  metabolize a dopamina, faça glutationa para ajudar o sistema imune a combater invasores, repare o DNA atingido por toxinas químicas, metabolize mais rápido ou mais devagar esse medicamento e assim por diante. É um trabalho contínuo de construção e reparação.

Contudo as suas ordens precisam ser operacionalizadas por enzimas [são grupos de substâncias orgânicas de natureza normalmente proteica, com atividade intra ou extracelular que têm funções catalisadoras, catalisando reações químicas que, sem a sua presença, dificilmente aconteceriam].

Se elas não entenderem muito bem e tiverem alguma dificuldade na execução dessas ordens, a idéia não se materializa.

Mas o corpo tem o mecanismo da homeostase que tenta contornar as dificuldades em busca do equilíbrio, daí nem sempre uma alteração no teste genético correlaciona-se com o diagnóstico. O teste genético é preditivo mas não necessariamente diagnóstico.

Precisamos estudar o metabolismo onde essas enzimas atuam para verificarmos se está havendo algum prejuízo ao sistema. Feito isso e baseados no conhecimento atual das ferramentas necessárias que essas enzimas necessitam para desempenharem os seus pápeis, podemos ofertar a elas o que lhes falta ou ultrapassar aquele passo que elas não conseguem dar sozinhas. É o caso da mutação da MTHF que não consegue transformar o ácido fólico em 5-metilfolato, um doador de metil, que entra na via da metilação e é necessário na formação de neurotransmissores cerebrais tais como serotonina, dopamina, DNA, etc.

VOCÊ SABE A DIFERENÇA ENTRE NUTRIGENÔMICA E NUTRIGENÉTICA?

O Projeto Genoma humano (PGH) concluído em 2003 é um grandes marcos na evolução do conhecimento sobre o genoma humano. Ficou claro que o genoma humano não é estático já que ele pode ser modificado por fatores ambientais e que a constituição do genoma influencia a resposta ao ambiente.

Uma das principais descobertas do PGH foi a constatação de que os humanos possuem cerca de 25mil genes e a sequencia do DNA apresenta similaridade de 99,9% entre os indivíduos. Ou seja, dois humanos diferem cerca de 0,1% em suas sequencias de nucleotídeos. Essa diferença na sequencia dos genes é chamada de polimorfismos [poli=muitas, morfismo=formas] que resulta nas variadas respostas individuais  diante de fatores ambientais incluindo a resposta ao aproveitamento de nutrientes até a metabolização de drogas e medicamentos.

Nesse contexto, surgiu a ciência da genômica nutricional a qual explica como os nutrientes são capazes de interagir com o genoma humano. Ela engloba estudos associados à nutrigenômica, nutrigenética e epigenômica nutricional. Alguns autores consideram nutrigenômica  e epigenômica nutricional como equivalentes.

Os eventos epigenéticos são relacionados com a adaptação estrutural de regiões cromossômicas , a fim de registrar, sinalizar ou perpetuar a atividade da expressão genica envolvida na diferenciação celular, no desenvolvimento embrionário e fetal além de todo o ciclo de vida.

Nutrigenômica=nutrientes atuam sobre a expressão dos gens
Nutrigenética=ação dos gens sobre os nutrientes

E O QUE QUER DIZER FARMACOGENÉTICA ?

É o ramo da Farmacologia Clínica que estuda as variabilidades de resposta às drogas em função das variações genéticas na população.

Ao analisar a resposta de uma população homogênea a uma determinada droga, com uma mesma dosagem, entre indivíduos do mesmo sexo, idade e peso, com mesmos hábitos diários e condições físicas semelhantes, é possível perceber que o efeito produzido apresenta diferenças significativas.

A resposta farmacológica a um tratamento medicamentoso não é a mesma em todos os pacientes. Na verdade, essa resposta apresenta variabilidade de efeito terapêutico e de toxicidade para pacientes diferentes, onde uma mesma dose padronizada de medicamento pode conduzir a uma resposta efetiva, resposta pouco eficiente, não produzir efeitos significativos ou, o que é pior, conduzir a reações adversas ao medicamento.

Essa variação na resposta a medicamentos pode ser decorrente de vários fatores:

  1. Doenças;
  2. Diferenças na farmacocinética dos medicamentos [o movimento da droga através do organismo- vias de administração, absorção, distribuição e biotransformação];
  3. Diferenças na farmacodinâmica dos medicamentos [indicar não só o movimento da droga no organismo, mas também seu mecanismo de ação e seus efeitos terapêuticos e tóxicos-local de ação, mecanismo de ação e efeitos];
  4. Fatores ambientais;
  5. Fatores genéticos – as variabilidades de resposta às drogas em decorrência de variações genéticas dos individuos.

Há indivíduos cujo metabolismo das drogas é acelerado e outros ao contrário que é lento. Existem ainda fatores nutricionais que são importantes no metabolismo e cuja deficiência pode levar a reações adversas graves a medicamentos cujos metabólicos tóxicos não conseguem ser neutralizados e eliminados.

JUNTANDO TUDO

A depressão é um transtorno mental multifatorial cujo indivíduo pode ter:

  1. Predisposição genética com alterações em enzimas e hormônios importantes na fabricação de neurotransmissores, da glutationa [necessária na eliminação de toxinas, na montagem do DNA] importante na formação e reparação de estruturas do cérebro], na metabolização de medicamentos dentre outros;
  2. Deficiências nutricionais como de aminoácidos necessários para formar a estrutura da serotonina, da dopamina, noradrenalina, GABA…;
  3. Alterações do trato digestório que prejudica a digestão de alimentos, a absorção de nutrientes, a detoxificação e eliminação de toxinas e medicamentos;
  4. Déficits de fabricação de energia pela mitocôndria [motor da célula]. O cérebro consome em média 20% da glicose que ingerimos e 25% do oxigênio que respiramos. É um órgão que trabalha 24 horas por dia e controla muitas funções do corpo, precisa de muita energia;
  5. As emoções precisam ser equilibradas de forma a não causarem um grande desgaste ao corpo e para a mente;
  6. A mente precisa se libertar de pesos do passado e de ansiedades desnecessárias já que não temos controle de tudo. Uma técnica eficaz para esse objetivo é o EMDR [vide artigo nesse site];
  7. A nossa parte espiritual que diz respeito ao nosso sentido de vida. Por que acordamos e nos movemos nessa vida também é importante para o nosso equilíbrio [vide artigo nesse site – Qual o sentido da vida?]

Enfim, cuidando do corpo, da mente, das emoções e do nosso propósito de vida, podemos dizer que jogamos o jogo completo na busca da saúde!

FERRAMENTAS DA CLÍNICA NA ABORDAGEM DA DEPRESSÃO.

Ferramentas  para investigação diagnóstica. 

Ferramentas terapêuticas

EQUILÍBRIO – A  MELODIA DA VIDA!