Juntando as peças

O TAMANHO DO  PROBLEMA

Estima-se que 20 milhões de americanos tenham alguma forma de distúrbio da tireóide. Uma em cada 8 mulheres desenvolverão algum distúrbio dessa ordem na sua vida. E esse número continua a crescer!

Hipotireoidismo é a patologia mais frequente. As mulheres são as mais atingidas.

Como todas as células do corpo têm receptores para o hormônio T3[tri-iodotironina] e a glândula tireóide é uma engrenagem chave no funcionamento do organismo, todos os principais sistemas do corpo são impactados nos desequilíbrios dessa glândula conhecida como “a rainha do metabolismo”.

O T3 atua no cérebro, no sistema cardiovascular, no trato gastrointestinal, no metabolismo dos ossos, no funcionamento do fígado e da vesícula biliar, na regulação da temperatura do corpo, na produção de hormônios esteroidais e nos metabolismos da glicose, colesterol, triglicérides e das proteínas.

QUAIS SÃO OS SINAIS E SINTOMAS DO HIPOTIREOIDISMO?

Há várias manifestações no funcionamento do corpo e da mente, dentre elas destacamos:

  1. depressão, demência e raciocínio lento;
  2. pele seca, queda de cabelo, unhas quebradiças;
  3. constipação intestinal, ganho de peso;
  4. menstruação irregular a hiperfluxo menstrual, infertilidade;
  5. rouquidão, intolerância ao frio;
  6. rigidez e dor muscular.

QUAIS AS CAUSAS DO HIPOTIREOIDISMO?

Estudos mostram que até 90% dos pacientes com hipotireoidismo produzem anticorpos que atacam a glândula e levam a sua destruição. Essa forma de hipotireoidismo é denominada Doença de Hashimoto. Nos EUA, Hashimoto é a doença autoimune mais frequente, afeta de 7 a 8 % dos americanos.

A doença de Hashimoto pode se apresentar como um “padrão autoimune poliendócrino”, ou seja,  não é incomum que os pacientes também apresentem anticorpos contra outros tecidos(além da glândula tireoide) e enzimas. Os mais comumente associados são:

  1. anticorpos transglutaminase(Doença Celiaca);
  2. Distúrbios neurológicos com lesão no cerebelo;
  3. Anticorpos contra o fator intrínseco(Anemia Perniciosa);
  4. Anticorpos contra acido glutâmico descaboxilase(Distúrbios do pânico, da ansiedade e no Diabetes melitus tipo 1).

Nesses casos o problema na tireóide é secundário a uma disfunção do sistema imune que deve ser corrigido.

Muitos estudos mostram relação entre várias doenças autoimunes(incluindo doença de Hashimoto e a Doenças de Graves) e a intolerância ao glúten.

POR QUE ISSO ACONTECE?

A estrutura molecular da gliadina, a proteína do glúten, é semelhante a da glândula  tireoide. Quando a gliadina atravessa a barreira intestinal e cai na corrente sanguínea, o sistema imune a marca para ser destruída e acaba por atacar também o tecido da tireoide.

É importante ressaltar que há vários casos de intolerância ao glúten sem a presença de sintomas gastrintestinais ou Doença Celíaca. Os sinais e sintomas são variados na intolerância ao glúten e podem se manifestar por inflamação nas articulações, na pele, no trato respiratório e  no cérebro.

Além das causas autoimunes, temos outros motivos  que podem levar ao mau funcionamento da tireoide como:

  1. As provocadas por agentes infecciosos;
  2. Por deficiências nutricionais;
  3. Uso de medicamentos tais como hormônios(estrogênio, testosterona), antiarrítimicos, cloroquina dentre outros;
  4. Aumento do cortisol no estresse;
  5. Gravidez;
  6. Resistencia a insulina como na Sindrome dos Ovários Policisticos e na desregulação da glicemia;
  7. Inflamaçoes crônicas do intestino tais como Doença Celiaca, Doença de Crohn que podem levar a má absorção de nutrientes como selênio, iodo, ferro, zinco, vitamina A importantes na produção, captação e ação dos hormônios da tireoide;
  8. Toxinas ambientais;
  9. Aumento de homocisteina, dentre outros.

CONEXÃO TIREOIDE-INTESTINOS

Hipocrátes, o pai da medicina dizia que toda doença começa no intestino,  só agora  conseguimos explicar o porquê dessa afirmação.  A falta da saúde intestinal pode prejudicar as funções da  tireóide e  ainda desencadear a doença de Hashimoto. Baixa função da tireoide pode por sua vez prejudicar o intestino.

Intestino hiperpermeável [Leaky Gut] deixa passar moléculas mal digeridas que acabam por ativar o sistema imune 

Há muitas interrelações  entre tireoide e tubo digestório:

  1. A barreira intestinal íntegra evita que qualquer alimento não digerido no seu menor pedaço que é o nutriente , passe para o sangue;
  2. Esse reconhecimento de alimentos com digestão incompleta é feito pelo sistema imune disposto ao redor do tubo. Cerca de 70% do sistema imune localiza-se ao redor desse tubo– a nossa “central de polícia”. Ele produz anticorpos para atacar “invasores”;
  3. Quando a barreira de células do intestino inflama-se e fica hiperpermeável, grandes moléculas de alimentos mal digeridos, além de toxinas de agentes infecciosos invadem a corrente sanguínea e podem desencadear doenças autoimunes por desregulação do sistema imune que acaba por atacar o próprio corpo;
  4. Os hormônios da tireoide T3 e T4 são importantes no fechamento da barreira intestinal. T4 também é importante na expressão adequada do GALT[ Tecido linfoide associado ao intestino] prevenindo inflamação intestinal;
  5. A boa flora intestinal é importante na conversão do T4 em T3 através de uma enzima chamada sulfatase produzida por uma flora intestinal saudável;
  6. Estudos mostram que a parede de bactérias do intestino os chamados lipopolissacárideos [LPS] afetam negativamente a tireoide de várias formas: reduz os níveis de hormônios da tireoide, altera a sensibilidade dos receptores a esses hormônios, aumenta o T3 inativo, reduz o TSH e promove doença autoimune na tireóide;
  7. Inflamação do intestino devido ao aumento do  cortisol  no estresse  diminui os níveis de T3 ativo e aumenta os de T3 inativo;
  8. Hipocloridria [baixa produção de ácido clorídrico] no estômago aumenta a permeabilidade intestinal, inflamação e infecção. Estudos mostram uma forte associação entre gastrite atrófica [associada a hipocloridria] e doença autoimune na tireoide;
  9. constipação intestinal prejudica o clearance hormonal e causa elevações no estrogênio que aumenta os níveis de  TBG [transportador de T3 e T4] o qual consequentemente reduz o T3 livre disponível para as funções do corpo;
  10. funcionamento lento da vesícula biliar impacta na função de detoxificação do fígado e evita que hormônios(tipo estrogênios) sejam metabolizados adequadamente no corpo. Por outro lado, o hipotireoidismo reduz o fluxo de bile prejudicando a vesícula biliar.

Possíveis causas de disfunção intestinal: baixo funcionamento da tireoide, infecções, hipocloridria, disbiose [flora intestinal desequilibrada], intolerâncias e alergias alimentares, estresse, uso de medicamentos dentre outras.

Por tudo isso, fica claro que uma tireoide saudável depende de um intestino saudável e vice-versa. Assim temos que abordá-los simultaneamente  na terapêutica.

COMO É FEITO O DIAGNÓSTICO?

 Solicita-se o painel dos  hormônios da tireoide, da glicemia, do cortisol, dos nutrientes(vitaminas e minerais), de agentes infecciosos, de alergias alimentares agudas e tardias, das funções hepáticas e renais dependendo da necessidade  observada no quadro clínico do paciente.

Estudos mostram uma frequência aumentada de distúrbios da tireoide no Diabetes Mellitus e uma maior prevalência de obesidade e de síndrome metabólica na alteração da tireoide. Isso ocorre porque a manutenção de uma tireoide saudável depende da regulação da glicemia e a manutenção de uma glicemia dentro da faixa normal depende de uma tireoide saudável.

O que Síndrome Metabólica?

Ela resulta de uma hiperglicemia crônica( açúcar elevado no sangue) com as seguintes manifestações:

  1. Obesidade abdominal;
  2. Colesterol e triglicérides elevados;
  3. Hipertensão arterial;
  4. Resistência a ação da insulina;
  5. Tendência a formar coágulos;
  6. Inflamação.

Tanto estresse crônico com cortisol elevado como uso excessivo de carboidratos podem levar a um aumento da resistência à ação da insulina  e as suas consequências como as que ocorrem na síndrome metabólica.

Resistencia a insulina[RI] e Sindrome Metabólica

Assim o eixo adrenal [libera cortisol], pâncreas [libera glicose] e tireoide [libera seus hormônios T3 e T4] funcionam como uma engrenagem interdependente. Um acaba interferindo no funcionamento do outro. Precisam ser vistos em conjunto na implementação terapêutica.

ADRENAL-TIREÓIDE-PANCREAS: EIXOS ACOPLADOS

QUAIS AS ETAPAS DO TRATAMENTO?

A tireoide produz em média 80% de  T4 [Tetra-iodotironina] e 20% de T3 [Tri-iodotironina]. Todas as células do corpo possuem receptores para o hormônio ativo  que é o T3.  O T4 é produzido na tireoide e ativado em T3 no fígado e intestinos e transportado no sangue. Só então o T3 exerce as suas funções no corpo ligando-se aos receptores nas células.

Ao tratarmos um paciente temos que pensar nas etapas de produção, conversão e de ação desses hormônios já que é relativamente comum eles serem encontrados dentro da faixa de “normalidade” e ainda assim o paciente apresentar sintomas de hipotireoidismo.

Produção, conversão e ação os hormônios da Tireoide

A produção, a conversão e a captação dos hormônios da tireoide no corpo envolve vários passos. Qualquer alteração neles pode levar a sintomas de hipotireoidismo e os exames nem sempre conseguem mostrar isso.

Com a finalidade de tratar todas as causas da doença de Hashimoto, é importante trazer o sistema imune para o seu equilíbrio e para isso mudanças na dieta e em estilo de vida tornam-se urgentes. Não existe um protocolo único para todas as pessoas, como a doença autoimune é altamente complexa, a abordagem deve ser individualizada. Uma pessoa com doença de Hashimoto pode apresentar um desequilíbrio do sistema autoimume  para dominância  Th1[Th=linfócitos T helper tipo 1], outro para  dominância Th2 e ainda outros para  hiper ou hipoatividade de ambos os sistemas Th1 –Th2.  Os suplementos  e as plantas medicinais utilizados nessas diferentes situações variam.

Do ponto de vista prático, temos  3 itens básicos para equilibrar o sistema imune:

  1. Remover desencadeantes autoimunes [alérgenos, estresse, leak gut, estrógenos, toxinas ambientais e agentes infecciosos] = INVESTIGAR;
  2. Fortalecer a função das células T reguladoras que equilibram a atividade das células T-helper [Th1 e Th2] e as células T-supressoras[que desligam o ataque do sistema imune] = EQUILIBRAR;
  3. Reduzir a inflamação=

O QUE FAZEMOS NA CLÍNICA NA VISÃO INTEGRATIVA

 Em muitas ocasiões recebemos pacientes que já estão usando hormônio da tireoide  e cuja otimização da dose está difícil seja por problemas de absorção do medicamento, de sua ativação ou ação nas células. Como podemos  auxiliar na abordagem sistêmica:

  1. Investigação diagnóstica do funcionamento dos 7 sistemas do corpo;
  1. Dieta anti-inflamatória e reparadora;
  2. Detoxificação do fígado;
  3. Programa dos 5Rs do trato digestório;
  4. Reposição de nutrientes para o bom funcionamento da tireóide;
  5. Uso de plantas medicinais e suplementos que fortaleçam a função das células T reguladoras;
  6. Uso da acupuntura [veja mais] para regulação das emoções e funções do corpo;
  7. Psicoterapia EMDR [veja mais] para desbloqueios mentais e busca do sentido de vida [veja mais]