PERDA DE OLFATO NA COVID-19 – ACUPUNTURA PODE AJUDAR?

Nas últimas duas décadas, os seres humanos tem sofrido infecções por conta do coronavírus: Em 2002, síndrome respiratória aguda grave (SARS) e síndrome respiratória do Oriente Médio (MERS) em 2012. Recentemente, foi identificado um novo coronavírus, denominado SARS- CoV- 2, cuja infecção em humanos foi denominada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como COVID-19.

Com base em uma meta-análise recente realizada na China (38 estudos com um total de 3.062 pacientes com COVID-19), os sintomas mais frequentes identificados foram: febre, fadiga, tosse, dispneia (falta de ar) e expectoração (saída de secreção), e os menos frequentes foram: rinorréia, cefaleia e odinofagia (dor de garganta), com uma percentagem relativamente baixa de pacientes assintomáticos (11%).

COMO FUNCIONA O SENTIDO DO OLFATO? QUAL A IMPORTÂNCIA DELE EM NOSSA VIDA?

As células nervosas do olfato humano constituem 1,25% da mucosa (revestimento) nasal e cobre uma área de 8–10 cm2. Aproximadamente 10 milhões de dendritos de neurônios (células nervosas) sensoriais responsáveis pelo olfato do bulbo olfatório se projetam na mucosa (revestimento) nasal. Os odores que atingem essas células nervosas se dissolvem na camada de muco e se ligam para ativar receptores (“fechaduras”) olfatórios específicos por meio de uma interação complexa. Um odor é capaz de ativar vários tipos de receptores em vários níveis.

Os neurônios sensoriais olfatórios enviam a mensagem química por impulsos nervosos ao bulbo olfatório. Essas informações são processadas e integradas no bulbo olfatório, e em seguida, são projetadas para estruturas do cérebro no sistema límbico (relacionadas às emoções) e para o hipocampo (memória de longo prazo) e, finalmente, para o córtex cerebral olfatório primário (áreas inferior e medial do Lobo temporal- onde os odores são discriminados).

O olfato é o único sentido que  atinge o córtex cerebral primário diretamente sem passar pela região do tálamo (centro relé – onde cruzam várias vias). Um ser humano tem aproximadamente 350 genes que codificam receptores que levam ao complexo mecanismo de identificação do odor.

O olfato desempenha um papel importante na vida diária. Influencia a seleção de alimentos e ingestão de nutrientes, a identificação e apreciação dos alimentos, a socialização, a qualidade de vida geral e a detecção de substâncias potencialmente tóxicas e nocivas, comprovando assim a sua importância na segurança contra intoxicações alimentares e outros tipos de intoxicação.

A disfunção olfatória (DO) pode ser classificada de maneira quantitativa, que implica em alteração de intensidade, ou qualitativa, quando há alteração na qualidade da percepção dos cheiros. Enquanto a função olfatória normal é definida como normosmia, os distúrbios quantitativos são classificados como perda parcial (hiposmia) ou total (anosmia) do olfato.

QUAL A RELAÇÃO ENTRE A COVID-19 E A DISFUNÇÃO OLFATÓRIA?

A apresentação de DO (Disfunção Olfatória) em infecções virais, como resfriado comum ou gripe, é muito comum, e muitos vírus levam a DO devido a uma reação inflamatória na mucosa nasal, com aumento da produção de muco (rinorréia), e / ou no neuroepitélio olfatório. Os agentes comumente conhecidos são rinovírus, parainfluenza, vírus Epstein-Barr e alguns coronavírus. O acompanhamento da perda olfatória pós-viral mostrou que mais de 80% dos pacientes tiveram recuperação subjetiva em um ano. A fisiopatologia exata da DO pós-viral permanece em estudo.

Parece haver duas causas prováveis:

1. Durante uma infecção respiratória superior, a perda do olfato ocorre como resultado do inchaço nasal, edema da mucosa e obstrução do fluxo de ar na fenda olfatória e / ou

2. No pós-viral a perda do olfato é causada por infecção e inchaço direto da mucosa olfatória, levando à subsequente neurodegeneração do neuroepitélio olfatório.

Danos e disfunções do sistema olfatório periférico, revelados por hiposmia ou anosmia, podem ser um indicador relevante da progressão da doença

TRATAMENTOS

Três em cada quatro pacientes com COVID-19 apresentam uma melhora na DO um mês após o diagnóstico. Essa melhora ao longo do tempo sugere uma ação competitiva do vírus nos receptores das células do olfato e do paladar ou um fenômeno inflamatório local, ao invés de dano permanente ao o neuroepitélio olfatório. Se a OD persistir, pode ser razoável considerar o tratamento. A eficácia dos tratamentos disponíveis para a DO pós-viral é desconhecida.

treinamento olfativo envolve a repetição e a exposição repetida a um conjunto de odores (limão, rosa, cravo e eucalipto) por 20s cada (duas vezes ao dia) por pelo menos 3 meses.

Corticosteroides orais e intranasais têm sido usados ​​para excluir um componente inflamatório. No entanto, atualmente não são recomendados para pessoas com COVID-19 devido à falta de evidências científicas e ao risco de efeitos adversos.

No entanto, até o momento, não há evidências de que essas terapias sejam eficazes em pacientes com DO relacionada ao COVID-19. Estudos clínicos de longo prazo são necessários para investigar a resolução espontânea e a duração da DO e para definir o manejo terapêutico de pacientes com anosmia permanente.

ACUPUNTURA PODE AUXILIAR NA RECUPERAÇÃO?

A acupuntura demonstra eficácia clínica para a recuperação pós-viral da perda do olfato. Pacientes com COVID-19 (coronavírus) frequentemente experimentam olfato diminuído, com um retorno médio dos sentidos do paladar e do olfato em oito dias. No entanto, impactos de longo prazo no paladar e no olfato foram relatados em casos de COVID-19. A pesquisa sobre a capacidade da acupuntura de beneficiar a restauração do olfato indica que é uma modalidade de tratamento potencialmente eficaz para o alívio da anosmia na recuperação pós-viral.