Quais os mecanismos implicados no ganho e perda  de peso  e na  manutenção do peso ideal?

Existem explicações para isso?

O pesquisador em obesidade, Dr.Stefan Guyenet tem algumas respostas.

Em uma visão mais ampla, a obesidade é multifatorial. Não é só uma questão de muita gordura e carboidrato e pouca atividade física. É muito mais complexo que isso. Se quisermos resumir, poderíamos dizer que se trata de:

ESTILO DE VIDA + PREDISPOSIÇÃO GENÉTICA = OBESIDADE

Essa equação é validada por comunidades que ainda mantém o seu estilo de vida tradicional e dieta. Isso não ocorre na sociedade “moderna”.

Lembrando que estilo de vida envolve desde o tipo de  alimento que ingerimos, o  grau de estresse e resiliência[ como nos comportamos frente ao estresse],  o nível de atividade física, a qualidade do sono, o ambiente em geral(água, ar, toxinas), relacionamentos saudáveis ou não, proposito e sentido de vida, grau de satisfação com a vida, relação trabalho-repouso dentre outros. Isso tudo é muito além da genética!

Obesidade é definida por um aumento na massa de gordura corporal que pode afetar adversamente a saúde humana [Sperrin et all,2014 e Withlock et all, 2009]. A OMS [Organizaçao Mundial de Saúde] considera essa massa de gordura elevada  quando o  IMC [Índice de Massa Corpórea] ultrapassa  30Kg/m2. Cerca de 30% dos americanos e 10%-20% dos europeus são considerados obesos. E o número de obesos só cresce nos países em desenvolvimento.

O que chama atenção também é o número crescente de crianças obesas nos EUA, na Europa e nos países em desenvolvimento associada a adolescentes com Diabetes melitus do tipo 2.

Segundo dados do Ministério da Saúde, a obesidade já atinge quase 20% da população brasileira, sendo o crescimento maior entre os jovens.

Nesse cenário crescente de obesidade e suas consequências  tais como doenças [Diabetes, doenças cardiovasculares, doenças osteoarticulares, dificuldades respiratórias, distúrbios do sono e mais recentemente câncer], incapacidades geradas por transtornos físicos nos casos mais graves aliam-se transtornos psicológicos.

MUITO ALÉM DE DIETA E EXERCÍCIO

Quais seriam a contribuição da genética, do ambiente e de outros fatores para a obesidade?

A ideia de que se você se exercitar mais e ingerir menos calorias ocasionará a perda de peso, não acontece para boa parte das pessoas. Mas isso não significa, segundo os estudos, que a quantidade de calorias ingeridas não seja importante. Ela é, mas só isso não basta.

Nos últimos 20 anos, as pesquisas demonstraram que a ingestão de alimentos e a regulação dos estoques de gordura corporal é orquestrada pelo cérebro.

Humanos, como os outros mamíferos, são capazes de regular o seu peso corporal por longos períodos de tempo a despeito da variação diária no numero de calorias consumidas e dos níveis do gasto energético.

COMO O CÉREBRO TENTA MANTER O EQUILIBRIO?

O cérebro recebe informações de outros sistemas do corpo e se comunica com eles    via o seu “centro de controle do metabolismo” [Hipotálamo- importante na regulação dos estoques de energia, do controle da fome e da saciedade] e  de outras regiões do cérebro. Elas desempenham um papel fundamental na regulação do peso e da massa de gordura corpórea.

Qual a importância para se ter uma reserva de gordura?

A obesidade seria como uma defesa biológica de uma elevada massa de gordura corpórea. Ou de um SETPOINT [ponto de ajuste] mais alto segundo o Dr.Chriss Kresser, especialista em Medicina Funcional.

COMO ESSE PONTO DE AJUSTE MAIS ALTO É MEDIADO?

Ele é mediado pelas interações entre o Sistema Hedônico [Sistema de BUSCA-PRAZER-RECOMPENSA] e o Sistema Homeostático [Sistema de REGULAÇAO DE ENERGIA].

POR QUE E COMO ESSES SISTEMAS SE DESREGULAM?

Esses sistemas ficam comprometidos quando há  INFLAMAÇÃO no corpo , seja  no trato digestório [responsável pela digestão e  absorção dos alimentos] incluindo os  intestinos [que alojam cerca de 70% do sistema imune] e outros sistemas do corpo,  assim como no cérebro [quando inflamado, há prejuízo na formação e no funcionamento de neurotransmissores – mensageiros químicos -importantes para os sistema hedônico e homeostático].

Além disso, a resistência a LEPTINA– hormônio produzido pelas células de gordura [Adipócitos], sinaliza ao hipotálamo a depleção de nutrientes e inicia uma série de alterações na ingesta de energia, no gasto energético, no tônus do sistema nervoso autônomo e nas funções neuroendócrinas a fim de manter o equilíbrio de energia no complexo sistema humano. Quando há resistência à ação da Leptina, essa sinalização não ocorre de forma eficiente.

O Hipotálamo primariamente participa de todos os processos mencionados acima e também regula os ritmos circadianos [Relógio biológico do corpo], a temperatura e o sono. Através de suas conexões neurais à Amígdala(região cerebral relacionada às emoções e em especial ao medo) e à Substância Cinzenta Periaquedutal [PAG] – região onde se localizam os 7 circuitos  presentes em todos os  mamíferos, estudados pelo neurocientista Panksepp, que regulam os aspectos comportamentais e neurais dos impulsos e das motivações – ele também modula uma variedade de comportamentos e humores presentes no estresse psíquico, na raiva, na ansiedade e na agressividade.

Já através de suas conexões com o tronco encefálico, modula o tônus do sistema nervoso autônomo [simpático e parassimpático] que por sua vez influenciam muitos processos metabólicos nos tecidos periféricos incluindo pâncreas, fígado, adrenal, tireoide, sistema cardiovascular e digestório.

O sistema homeostático, em um ambiente equilibrado, mantém o Ponto de Ajuste [SETPOINT] de uma forma coordenada com as necessidades do individuo de ganho ou de perda de massa de gordura semelhante a um  termostato faz para manter a temperatura estável [mas de forma muito mais complexa].

O QUE LEVOU À INFLAMAÇÃO?

O QUE DESEREGULA ESSE PONTO DE AJUSTE NA NOSSA SOCIEDADE?

Há vários fatores que contribuem para isso. Eles variam desde MUTAÇÕES GENÉTICAS [alterações na estrutura do gene[ e SNPS[Single Nucleotide Polymorphism] [variações pontuais encontradas ao longo do DNA- diferenças em um  único nucleotídeo]- eles são uma MINORIA.

Já os fatores EPIGENÉTICOS e de DESENVOLVIMENTO, que englobam desde  a saúde dos pais no momento da concepção, a saúde materna na gestação, o peso ao nascer, a flora intestinal inicial, aleitamento materno,  tipos de alimentos ingeridos e toxinas ambientais, contribuem  MUITO MAIS.

O QUE A LEPTINA TEM HAVER COM ISSO?

Incialmente devemos reforçar que o ponto de ajuste [SETPOINT] na obesidade se tornou muito alto, isso significa que o sistema homeostático [de regulação do peso] está defendendo uma quantidade de gordura[energia] muito alta como reserva para o corpo.

A leptina é a mestre do controle de gordura no corpo. E ela é produzida pelas células de gordura proporcionalmente à quantidade de gordura corpórea. Assim, quanto mais gordura, mais leptina.  Ela sinaliza para o cérebro, primariamente para a região do hipotálamo [e para outras partes do cérebro sensíveis a leptina], o quanto de estoque de energia[gordura] o corpo tem.

Em uma pessoa com peso normal ocorre o seguinte:

Quando a gordura aumenta, a leptina sobe. Então, o cérebro manda a mensagem para conter o nível de gordura, reduzindo a ingesta de comida e aumentando o gasto energético. Por outro lado, quando a massa de gordura cai, a produção de leptina é reduzida, e aí o cérebro estimula mecanismos que aumentam a ingesta de comida e reduz o gasto energético o que causa acúmulo de gordura corporal.

Contudo na obesidade o que vemos é um aumento da gordura corporal e  da leptina, mas as respostas para redução da ingesta de comida e o aumento no gasto energético não acontecem. Isso o que se chama de RESISTÊNCIA À LEPTINA onde o cérebro precisa de doses maiores para responder e vencer essa INSENSIBILIDADE..

Isso ocorre também com a insulina. A RESISTÊNCIA À INSULINA E À LEPTINA deixam as células do corpo “indiferentes” a essas substancias.  É Como se elas batessem na porta das células[receptores] mas elas não ouvissem. Precisam gritar para serem percebidas!

MAS QUAL O LINK ENTRE A RESISTENCIA À LEPTINA, À INSULINA E A OBESIDADE?

Umas das principais causas é a Inflamação como já mencionado. Citocinas pró-inflamatórias inibem a sinalização da leptina em diferentes células do corpo e quando ela chega ao cérebro, o hipotálamo não consegue “ouvi-la”, e então a massa de gordura tende a aumentar e produzir mais leptina.

Essa inflamação pode ser causada por diferentes fatores: 

  • Alimentos que promovem inflamação tais como os refinados, processados, ricos em açúcar e alguns grãos;Alteração na flora intestinal com bactérias que produzem endotoxinas tais como os lipopolissacarideos e a hiperpermeabilidade intestinal, que  permite que essas toxinas atinjam o sangue e alcance o hipotálamo levando a resistência a leptina;A deficiência de certos micronutrientes e de algumas (boas)gorduras também provocam inflamação e resistência à leptina no cérebro;Danos em neurônios [células do sistema nervoso] também podem contribuir para a obesidade.
  • Outro fator além da inflamação relacionado à obesidade, como cita o pesquisador Stefan Guyenet é a existência atual de Alimentos Altamente Palatáveis [AAP], densos em calorias e que acionam de forma contundente o nosso sistema de recompensa. Eles não existiam antes na história da humanidade.Quando o sistema de recompensa é acionado, isso significa que um determinado comportamento é reforçado frente ao estímulo. No caso em questão, o hábito de comer.Os fatores envolvidos nesses alimentos que os tornam tão desejáveis vão desde a textura do alimento, a densidade calórica, o conteúdo de gordura e  de amido, de açúcar simples, de sal e glutamato livre. É o que dizem os pesquisadores dessa área. Tudo isso impacta nos 5 sentidos sensoriais  do corpo [olfato-cheiro, visão-apresentação, paladar-sabor acentuado, tato-textura macia e/ou crocante, audição-textura especialmente crocância] e nos centros do cérebro quando a comida entra pela boca.

    Hipotálamo está envolvido primariamente com o sistema de regulação de energia, e as regiões corticais e límbicas com o sistema de recompensaDopamina e opiódes são particularmente importantes no sistema hedônico [de recompensa].

    Os opióides são mais relacionados à preferência e regulam o senso de prazer, enquanto a dopamina, a motivação e o comportamento. E um terceiro neuroquímico envolvido no sistema de recompensa são os endocanabinóides. Quando o receptor endocanabinóide CDB1 é estimulado, há o desejo do consumo de alimentos altamente palatáveis.

    Então o desenvolvimento da obesidade e a busca  do peso ideal é uma equação complexa que envolve desde a questão do alimento [sua composição e ação sobre o cérebro] até a questão das substancias [hormônios e químicos] envolvidas  no controle da fome/saciedade, passando pelo gasto energético[atividade física] até fatores psicológicos [autoestima, relacionamentos, sistema de apego, transtornos alimentares e de imagem, etc].

    Conclui-se que a solução não é única nem tampouco fácil e exige empenho máximo do profissional que assiste quanto de quem procura a assistência.

    SETE ESTRATÉGIAS COMPLEMENTARES NO TRATAMENTO DA OBESIDADE

    Utilizamos em nossa clínica uma abordagem sistêmica englobando fatores do corpo, da mente e das emoções com ferramentas terapêuticas da Medicina Funcional, da Medicina Chinesa e da Psicoterapia:

    1.Um Plano alimentar anti-inflamatório, anti-alergênico e desintoxicante individualizado baseado nos exames laboratoriais;

    2. Fórmulas magistrais chinesas no combate à inflamação, à alergias, regular as emoções e para modular  o sistema imunológico;

    3. Fórmulas com vitaminas e minerais para repor os nutrientes depletados e melhorar o metabolismo;

    4. Suplementos tais como ômega 3, cúrcuma, resveratrol, probióticos e os específicos para o quadro clínico;

    5. Acupuntura (vide neste site: “Acupuntura: indicações”) no controle do estresse, da dor,  para ajudar no sono e na modulação do sistema imune;

    6. Tratamento psicoterápico baseado nas mais modernas descobertas de como o cérebro funciona e dos impactos sobre ele que repercutem em nossa saúde mental- EMDR incluindo os traumas psicológicos que podem estar envolvidos nos quadros de obesidade (vide nesse site o artigo: “EMDR- uma psicoterapia revolucionária”);

    7. Associada a essa terapia trabalhamos também as questões sobre o sentido e proposito de vida (Vide neste site o artigo: “Uma visão completa e prática do que é ter sentido na vida”)