“Entre o estímulo e a resposta há um espaço.
Nesse espaço está nosso poder para escolher a resposta.
Na resposta repousa nosso crescimento e liberdade”

Viktor Frankl [psiquiatra]

Vivemos em um mundo em constante mudança, no qual a velocidade das transformações se acelera de forma nunca antes imaginada. Temos que nos adaptar continuamente, o que nos leva ao estresse e ao sofrimento. O nosso cérebro evoluiu a passos mais lentos e daí surge o desafio da adaptação.

Temos que encontrar estratégias de sobrevivência usando a criatividade, mas para o processo criativo, precisamos estar com as emoções alinhadas, desfocar a atenção para que esse órgão não sucumba de fadiga e o organismo de exaustão.

Vamos analisar uma das emoções mais frequentes e habituais nos dias de hoje e aprender algumas formas de lidar com ela.

VOCÊ SABE O QUE É ANSIEDADE?

Temos uma emoção inata que nos defende dos perigos e ameaças: O Medo. Sempre que algo pode atentar contra a nossa sobrevivência – seja física ou mental, nossos corpos vivenciam uma resposta de luta ou fuga com ativação do sistema nervoso simpático que resulta em aceleração dos batimentos cardíacos, sudorese em mãos e pés e desvio do sangue preferencialmente para os membros, a fim de que surja uma ação imediata para escapar da ameaça.

Essa resposta adaptativa tem nos feito sobreviver frente a perigos reais. O problema surge quando essa reação é decorrente de ameaças que estão apenas na nossa cabeça, seja por lembranças de acontecimentos passados ou por um perigo futuro imaginário. Não tem como o corpo permanecer o tempo todo inundado de hormônios liberados no estresse sem pagar um preço com desequilíbrios de órgãos e sistemas.

Ansiedade é ficar antecipando uma situação ameaçadora e sentir-se apreensivo, inseguro, preocupar-se excessivamente com resultados negativos e vigilante. O ansioso liga-se no radar do medo e seu olhar gira no entorno em busca de  possíveis ameaças do ambiente ou de dentro dele tais como medo de não dar conta da sua própria vida. O dia só tem vinte e quatro horas, mas o ansioso quer resolver tudo nesse dia, não consegue priorizar e o que é mais importante e imediato. Precauções e cuidados são necessárias no mundo em que vivemos mas quando a apreensão ansiosa e as preocupações tornam-se um hábito sempre com medo do futuro, a pessoa perde o contato com o momento presente e deixa de aproveitar a própria vida .

O ansioso sente o impulso de fugir do perigo quando não há ameaça clara presente. Sente-se compelido a controlar o futuro, mesmo sabendo que muitos aspectos da vida estão além do seu controle. Assim o seu comportamento se dá em resposta ao medo apreensivo decorrentes de seus pensamentos e a seus julgamentos e críticas sem conexão com a realidade.

OS ACONTECIMENTOS DA VIDA RECEBEM A IMPORTÂNCIA QUE DAMOS A ELES.

O que nos acontece no dia a dia pode ser interpretado como bons ou maus momentos dependendo de quem o avalia, é o que nos mostra a sábia história oriental que descrevemos abaixo:

TUDO NA VIDA SEMPRE TEM DOIS LADOS

“Havia um velho chinês que era Sábio. Um dia, seu único cavalo desapareceu. Os vizinhos, em solidariedade , foram visita-lo e comentaram:
– Puxa que coisa ruim, seu cavalo foi embora;
O velho estava tranquilo e respondeu:
– Se é bom ou é mau só o tempo dirá.
Ninguém entendeu nada e acharam o velho esquisito.

Algumas semanas se passaram, o cavalo voltou espontaneamente e veio um junto um cavalo selvagem. Os vizinhos foram felicita-lo.
– Que coisa boa, você agora tem dois cavalos!
O velho disse:
– Se é boa ou é má só o tempo dirá.
Os vizinhos estranharam o comentário, mas deixaram de mão.

Um dia, o filho do velho tentou domar o cavalo selvagem e acabou fraturando uma perna. Os amigos do velho, em solidariedade, foram procura-lo dizendo:
– Nossa, seu filho quebrou a perna. Que coisa ruim!
O velho sábio retrucou:
– Se é bom ou mau só o tempo dirá.
Os amigos acharam que ele era um pai insensível. Afinal o seu filho estava machucado.

Nesse período, estourou uma guerra e todos os jovens foram convocados exceto os feridos e convalescentes. Os vizinhos foram logo dizendo:
– Que sorte a do seu filho de não ter que ir para a guerra!
O sábio velho, mais uma vez disse:
– Se é bom ou mau, só o tempo dirá.

Essa história não tem fim mas demonstra que o nosso poder de controle sobre as coisas é limitado, e que acontecimentos aparentemente ruins surgem e vem, muitas vezes para nos poupar de coisas piores.

SÃO MUITOS OS TRANSTORNOS DE ANSIEDADE, VAMOS CONHECER COMO A PSIQUIATRIA OS CLASSIFICAM?

Abaixo na tabela está a classificação segundo o DSM-V [Manual de Diagnóstico e estatísticos de Transtornos Mentais – quinta edição feito pela Associação Medica de Psiquiatria] e as perguntas chaves para identifica-los proposta pelo psiquiatra americano Allen Frances, o qual participou ativamente na elaboração do DSM-IV anterior ao atual.

O Psiquiatra Allen Frances chama atenção no seu livro “Fundamentos do Diagnóstico Psiquiátrico: respondendo às mudanças do DSM-5” do cuidado de rotular uma pessoa com Transtorno de ansiedade generalizada [TAG] devido os critérios do DSM-5 serem muito frouxos, e sugere que esse diagnóstico seja restrito a pessoas cujas preocupações sejam intensas, contínuas, além do comum, debilitantes, duradouras [por pelo menos seis meses ou mais] e que não possam ser mais bem explicadas por outro diagnóstico. Mas vamos ao que o Dr. Frances diz em relação a esse distúrbio:

“A mente dos que sofrem de TAG nunca descansa. Todos os desafios típicos da vida estão prontos para causar preocupação: família, finanças , saúde, trabalho, escola, amizades, futuro, etc. A preocupação pode ser acompanhada de todo tipo de outros sintomas cognitivos [baixa concentração, catastrofização, indecisão]; sintomas de humor [irritabilidade, desmoralização]; e sintomas físicos [náusea, diarreia, dores de cabeça, suor, tremedeira, tensão muscular e falta de sono]. A ansiedade causa muito sofrimento e tem efeito nitidamente prejudicial na vida diária dessas pessoas. Elas buscam constante tranquilização, mas nunca se sentem realmente confortadas.”

Apesar do transtorno obsessivo-compulsivo [TOC], o transtorno de estresse pós-traumático [TEPT] e o transtorno de déficit de atenção/hiperatividade [TDAH] serem classificados separadamente no DSM-V, eles compartilham um considerável componente de ansiedade em suas manifestações apesar de suas peculiaridades. É frequente que quadros de ansiedade cursem com depressão.

COMO PODEMOS AJUDAR O PACIENTE A IDENTIFICAR O QUADRO ANSIOSO?

Através de psicoeducação, o paciente é ensinado sobre :

  1. A natureza da ansiedade;
  2. Como monitorar e aumentar a percepção e a compreensão de suas próprias respostas ansiosas;
  3. Como identificar e a questionar pensamentos e crenças relacionadas à ansiedade;
  4. Além de aprender a controlar pensamentos que disparam reações emocionais como medo e pânico no seu corpo.

EXISTE UMA REGIÃO NO CÉREBRO QUE DISPARA ESSE COMPORTAMENTO?

Segundo a citação clássica de William James, um dos pais da psicologia, – “Minha experiência é aquilo a que decido prestar atenção”.

Apesar de recebermos continuamente milhões de dados do mundo externo, só conseguimos processar aqueles aos quais dedicamos nossa atenção. Interpretamos o significado do que vemos com base em nossas experiências passadas.

As emoções são sistemas de auto-organização que tendem a se auto-perpetuar entrando em um círculo vicioso. Se entramos em desespero por não conseguir algo que desejamos, não conseguimos enxergar com clareza que uma recusa não significa que não temos valor, mas a mente ansiosa começa a pensar que jamais conseguirá o que deseja porque é incompetente.

Existe uma região no cérebro chamada “amígdala” que funciona como um sensor de perigo que quando é ativada, dispara reação de alarme de luta ou fuga para sairmos da situação de ameaça. Dependendo da história de vida da pessoa, incluindo principalmente os primeiros anos da sua vida, esse sensor de alarme pode ter sido muito estimulado para que a pessoa fugisse de situações que a colocava em risco e ficou extremamente sensível.

Centro do Medo, onde localiza-se a amígdala, é muito importante para a sobrevivência da espécie mas quando ativado, os processos de pensamento são emocionalmente sequestrados e a capacidade de pensar criativamente diminui. Acaba-se reagindo impulsivamente para se resguardar. O neurotransmissor [mensageiro químico] que conduz o estímulo envolvido nesse circuito chama-se noradrenalina – a adrenalina do cérebro.

RESPOSTA DA AMÍGDALA ÀS AMEAÇAS.
EM FRENTE A UMA AMEAÇA, A AMÍGDALA DISPARA UM ALERTA [EM QUESTÃO DE MILISSEGUNDO]) PARA A REGIÃO DO HIPOTÁLAMO QUE LIBERA HORMÔNIOS OS QUAIS PREPARAM O CORPO PARA LUTAR OU FUGIR. O ESTÍMULO QUE VAI PARA O CÓRTEX [REGIÃO CONSCIENTE] É MAIS LENTO E A PESSOA REAGE SEM NEM PENSAR.

Esse assunto te interessa? Continue lendo mais no artigo: ANSIEDADE: PROBLEMA IDENTIFICADO – QUAIS AS PROVÁVEIS CAUSAS?