“A pessoa perde a habilidade de pensar com clareza, de se concentrar e até de tomar as decisões mais simples. A vida parece vazia e sem gosto, drenada de prazer, interesse e emoção. Come-se e dorme-se demais ou de menos. Os pensamentos são lentos, pesados e sombrios, dominados por uma profunda desesperança, inutilidade e pelo peso de uma incansável culpa. O único desejo é que essa “casca mortal” chegue a um fim rápido e decisivo, sumindo com as constantes nuvens acima e aliviando a alma de seu pesado fardo.”

                                                                      Allen Frances [Psiquiatra americano]

Mais de 100 milhões de americanos, cerca de um em cada três, mais precisamente, tem algum problema com a depressão.

O surgimento dos medicamentos antidepressivos foi um grande marco na história da medicina mas nem todos se beneficiam com eles e ainda existe a questão dos efeitos colaterais para se discutir.

A abordagem da psiquiatria convencional usa critérios baseados em sintomas para a prescrição medicamentosa sem se preocupar, com raras exceções, com as causas responsáveis pelo aparecimento desses sintomas. Assim o paciente é rotulado como depressivo e segue a vida usando medicamentos. Vamos falar mais adiante sobre as pesquisas nessa área quanto as possíveis causas e tratamentos.

Os profissionais de saúde que estão envolvidos nos cuidados com esses pacientes, com diversas formações – médicos psiquiatras, psicólogos, nutrológos – padecem do que se chama de “viés cognitivo”, ou seja, cada um de acordo com o que estudou, costuma focar sobre um ângulo, só que o quadro pode ser bem mais amplo dependendo do paciente:

  1. Pode haver problemas nutricionais que prejudicam a formação de neurotransmissores e impedem o adequado funcionamento dos circuitos cerebrais tipo o da serotonina e da dopamina que diminuem;
  2. Esse indivíduo sofreu traumas no decorrer da vida com perdas decorrentes que repercutiram no seu corpo e alteraram a sua percepção da vida?
  3. Há na sua história familiar casos de parentes com problemas depressivos?
  4. Há todos esses fatores juntos – genéticos, ambientais, sociais, nutricionais?

Assim percebemos que a abordagem deve ser individualizada e o ideal seria integrá-la. Todas as opções terapêuticas tem limitações desde a não resposta medicamentosa ou seus efeitos colaterais e as frequentes recidivas.

VAMOS AO PROBLEMA:

Já que a Organização Mundial de Saúde [OMS] estima que a depressão encabeçará o primeiro lugar nas estatísticas da morbidade em 2020, é importante conhecer o seu impacto, que não está confinado somente ao indivíduo mas se estende negativamente à todas as suas relações familiares, sociais e ocupacionais.

Os sintomas da depressão podem ser agrupados em 4 domínios principais: regulação da emoção [RE], cognição [C], motivação [M] e homeostase [H] [Homeostasia ou homeostase é a propriedade de um sistema aberto, especialmente dos seres vivos, de regular o seu ambiente interno, de modo a manter uma condição estável mediante múltiplos ajustes de equilíbrio dinâmico, controlados por mecanismos de regulação inter-relacionados. Sistemas complexos, como  o corpo humano, precisam de homeostase para manter a estabilidade e sobreviver. Mais do que apenas sobreviver, estes sistemas devem ter a capacidade de se adaptar ao seu ambiente externo e interno. Aqui se refere a regulação do sono, do apetite, do peso e do desejo sexual, da produção de energia e  da estabilidade de humores emocionais]. Apesar de como toda categorização de fenômenos psicológicos não ser exata e poder haver sobreposição em mais de uma categoria, ela ajuda na procura de mecanismos biológicos da depressão.

  • DSM-V [Manual de Diagnóstico e estatísticos de Transtornos Mentais- quinta edição feito pela Associação Medica de Psiquiatriarequer 5 sintomas por um período acima de 2 semanas para considerar como depressão maior.
  • CID 10 [Classificação Internacional de Doenças publicado pela OMS-Organização Mundial de Saúde] define episódios de depressão por uma combinação dos sintomas mais típicos [em negrito e sublinhados] e outros citados na tabela. A quantidade de sintomas determina a gravidade do episódio:
  • 2 típicos e 2 acessórios = depressão leve;
  • 2 típicos e 3 ou 4 acessórios = depressão moderada;
  • 3 típicos e 4 ou mais acessórios = depressão grave.

Segundo o DSM-V, os transtornos depressivos são classificados em 5 tipos, e o psiquiatra americano Allen Frances no seu livro “Fundamentos do diagnóstico psiquiátrico- respondendo às perguntas do DSM-V” fornece algumas perguntas chaves para identificá-los:

Ele faz ainda algumas considerações cruciais no caso de depressão secundária [ou não] a doença física :

  1. Transtorno depressivo primário: a doença física é incidental, não relacionada ou secundária à depressão. Essa pessoa pode ter antecedentes familiares de depressão, o que fala a favor de algo fator genético envolvido;
  2. Transtorno de adaptação: os sintomas depressivos são uma resposta psicológica à doença médica e não se devem a seus efeitos fisiológicos. Aqui a depressão surge em decorrência da reação psicológica ao diagnóstico de uma doença orgânica, como por exemplo, um câncer;
  3. Transtorno depressivo induzido por substancia: os sintomas podem ser um efeito colateral do medicamento usado para tratar a doença física. O uso de alguns medicamentos pode interferir no funcionamento cerebral diretamente ou indiretamente como no caso do uso de inibidores de bomba ácida do estômago usados cronicamente levando a prejuízo da digestão e absorção de proteínas, vitaminas e minerais vitais para a formação de neurotransmissores cerebrais.